Poesia: " A Lenda das Árvores do Vale"
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Unknown
on domingo, 10 de janeiro de 2010
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jan/2010
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Num dia perdido dos calendários, surgiu um
vento cigano que trouxe com ele sementes.
Estas se espalharam pelo solo árido e, sem
estímulo para brotar, ficaram ali dormentes.
Novamente o acaso, o jogo das probabilidades:
nuvens vieram e desabaram em chuvas.
E a água, berço da fertilidade, encontrou a terra
e esta se fez útero para as sonolentas sementes.
Num milagre, o mistério da vida se fez presente,
acordando os germes, transformando-os em
brotos.
Nova surpresa: as pequenas mudas, embora
semelhantes, apresentavam diferente
desenvolvimento.
Por alguma razão, na união da água com a terra
algumas áreas
mostravam-se mais férteis que outras, uma
vantagem natural.
Assim, era de se esperar que as beneficiadas
brotassem mais vigorosas e vice-versa.
O tempo passou e o inesperado: dentre os já
esperados belos arbustos cresciam alguns
bastante mirrados, enquanto onde se esperavam
vegetais mirrados cresciam outros tão vigorosos
quanto os que pareciam assim predestinados.
Em verdade, uma mudança de sorte, um
reescrever do destino, uma nova força, o livre
arbítrio de cada ser, a vontade individual
atuando sobre as condições naturais.
De certa forma, alguns beneficiados pela sorte a
princípio não souberam aproveitar a
oportunidade, assim como, de modo inverso,
outros inicialmente prejudicados alteraram a
linha do seu destino.
Nova atuação do tempo e os jovens arbustos
amadureceram em grandes árvores.
E novamente o inusitado: arbustos promissores
formando árvores menos frondosas do que
outros menos proeminentes, reafirmando,
novamente a vontade individual.
Hora da florada, de produzir frutos e trazer
neles as sementes que seriam o princípio de
novas árvores.
E assim ocorreu, repetiu-se a história. Surgiram
filhas dessa geração e mais uma vez a surpresa,
pois que algumas, vindas de árvores feias,
tornaram-se belas árvores, enquanto filhas
de belas árvores não conseguiram ser mais do
que mirrados vegetais.
E concluiu-se que também as gerações de
descendentes podiam mudar a sua sorte
original.
E assim aconteceu por muitas vezes, afastando
o processo de criação da sua origem.
Até que certas árvores, não se conformando
com a morte e desejando viver eternamente,
passaram a deixar de produzir seus frutos,
tentando desta forma, conter a vida que existia
em si.
Egoístas, imaginavam que ao aprisionarem sua
fertilidade, realimentariam a sua juventude.
Desta forma dividiram-se as árvores em estéreis
e férteis.
Umas, vivendo apenas para si e outras, voltadas
para o multiplicar da vida.
Novamente o tempo com o seu viver eterno,
agora afrontando-se com a efemeridade da vida.
A grande linha do ilimitado passando pelos
pontos da linha da limitação e do finito.
Morrem as gerações originárias. Mas sendo elas
causa, o efeito de suas ações continuou a existir,
pois que das árvores que se mantiveram férteis,
as filhas hoje povoam diversos e distantes vales,
enquanto que daquelas que concentraram
suas forças apenas para si, tiveram como filhos
os novos desertos.
Vontade individual e condições naturais,
alternância e gerações, a criação de florestas e
desertos. O desabrochar da vida sobre a morte.
O mortificar da morte sobre a vida.
As interações do destino com o livre arbítrio,
gerando o efeito a partir da causa, contribuindo
com a ação da vontade para a construção da
direção do destino.
É necessário acumular muito aprendizado do
tempo finito para entender o tempo infinito.
É essencial sentir a força viva do vento que leva
e traz as sementes.
É primordial a lembrança de que das antigas
árvores algumas ainda vivem por seus
descendentes, enquanto outras já não existem
mais no misterioso e dinâmico ciclo da vida.
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1 comentários:
BRAVOOO! Parabéns!
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